terça-feira, junho 19, 2007

E o fim do mundo já tem data.

Hoje saiu na Folha uma nota sobre as profecias de Isaac Newton sobre o apocalipse. Documentos guardados em Israel vieram a público e dizim que o mundo teria seu fim em 2060. O interessante era o comentário atribuído ao próprio Newton segundo o qual pessoas fantasiosas acabavam por desacreditar as escrituras.
Essa notícia é coisa velha na verdade e me espanta que a folha a mostre agora mas isso não interessa tanto; o que interessa é a "revelação" de que Newton não era apenas um "cientista", também exercendo estudos em teologia e alquimia, o que desconstroe uma série de concepções sobre o que é esperado como comportamento adequado a um homem de ciências. Os documentos ainda revelam que Newton era um grande crente (tem alguma tradução melhor pra believer?) e isso é um certo tapa na cara de muita gente, eu acho.
Saiba mais sobre os documentos

sábado, junho 16, 2007

Feminilidade

Ultimamente meu interesse pela Psicanálise redespertou e ando lendo um bocado de coisas. O Brasil tem alguns psicanalistas bastante famosos como o Jurandir Freire Costa e o Joel Birman, além do Calligaris que escreve pra Folha e que, a pesar de não se brasileiro, é como se fosse.
Bom, tenho agora na pratileira um livro do Birman chamado "Mal-estat na atualidade", composto de uma série de ensaios sobre a pós-modernidade e a Psicanálise. Acabo de ler um chamado "A Sustentável Levesa do Analista" onde discute o conceito de feminilidade de um jeito que não tinha visto até então.
Para ele a feminilidade não tem nada a ver com ser sensual ou qualquer coisa desse tipo. Tem sim a ver com a impotência. Mas como assim? Bom, para a Psicanálise a importância do falo é incontestável mas o que é o falo senão o poder, a capacidade de agir sobre o meio, o controle? O feminino é constitutivamente destituído do falo só o conseguindo por meio indireto pela sedução do homem ou pela maternidade. A feminilidade, portanto, é caracterizada pela total destituição de poder. É dessa feminilidade que todos fugimos; afinal como nos sentimos quando não estamos com o controle da situação? Que sensação experimentamos quando nos vemos impossibilitados de impor nossas vontades? Essa feminilidade causa ojeriza mesmos nas mulheres, em sua luta constante pela aquisição de novos espaços, ou mesmo em movimentos de "redescoberta do poder feminino". Isso me lembra a capa de um livro que vi esses dias: "Pense como Homem e conquiste os Seu."

Ask a Ninja

Taí uma das coisas mais engraçadas que eu vi na internet nos últimos tempos. Ask a Ninja é um podcast apresentado por um ninja que responde perguntas de tipos variados desde "o que é podcasting?" a "quais são suas menos favoritas últimas palavras?" O ninja já está com uma fama considerável com seus quase 50 episódios, ganhando um Webby Awards, entrevistando artistas e até participando de episódios de Myth Busters.
Dá uma olhada e me diz o que acha.

quarta-feira, junho 13, 2007

Why can't women be like a man?

Com uma certa frequência eu costumo rever My Fair Lady. Eu adoro as músicas e a gracinha da Hepburn mas uma coisa eu ainda não havia percebido: O professor Higgins nunca realmente ama Eliza.
Tá, tá, se você já leu a peça do Shaw, Pigmalion, de onde o musical é adaptado, percebe isso eventualmente- afinal, o próprio autor afirma que eles nunca ficam definitivamente juntos, já que ela se casa com Freddy e passa a sustentá-lo posto que o mesmo é um grande banana. Mais tarde ela e o professor se tornam amantes mas nunca ficam juntos de verdade.
Agora deixa eu explicar por que ele não ama Eliza. Pra começar eu preciso falar um pouco sobre o conceito de Narcisismo. Freud usa o mito de Narciso para falar de uma característica normal no infante onde esse é o centro do mundo, o receptáculo de toda a energia libidinal. Essa condição se institui, a grosso modo, a partir da relação com a figura materna transforma o filho/a no phallus que ela, enquanto mulher, não possui naturalmente. Podemos perceber isso quando a mãe chama o filho de "meu tesouro", por exemplo e quando ela se coloca acima do homem por ser mãe. A maternidade possibilita a essa mãe um poder social considerável.
Bom, no filme a relação do professor com a mãe não parece sustentar o diagnóstico mas eu ainda preciso trabalhar nisso. Continuando, o narcisismo é uma etapa natural e esperada dentro do desenvolvimento psíquico. Em dado momento essa etapa dá lugar, depois da intervenção paterna que coloca o infante no lugar a que pertence, principalmente durante a fase fálica no processo edípico, à relação Eu-Outro como conhemos, perpassada pela lei. Entretanto o narcisismo pode perdurar e instituir-se sobre a lei da alteridade, levando para a vida adulta as carcaterísticas da relação com a mãe em que o sujeito é próprio falo.
Algumas características do narcisista são a fantasia de onipotência, onde o sujeito sente-se capaz de tudo, praticamente um deus sobre a Terra, a negação da diferença, já que a própria existência diferença diminui seu status enquanto eu-mundo ,a busca de pessoas reforçadoras que confirmem sua posição, o pensamento binário, onde tudo que o sujeito representa é o bom e todo o resto o mal, entre outras coisas.
Pensemos agora no que o filme nos dá. Em primeiro lugar o ódio de Higgins a qualquer jeito diferente de se usar a lingua inglesa que não a que ele mesmo usa já pode caracterizar alguns dos comportamentos citados, podemos ainda acrescentar algumas canções como "Let a woman in your life" e "Why can't women be like a man?" para reforçar nossa posição. Certamente a ilusão de onipotência é óbvia nos bastando a própria empreitada a que se propõe, passar a vendedora de flores por uma duquesa no baile da embaixada, que não era o que Eliza queria, diga-se de passagem. Higgins tem tanta fé em seu poder que arrisca a vida da pobre moça sem pestanejar.
Quanto a pessoas reforçadoras, Pickering é um puxa-sacos de marca maior, veio da India para encontrar Higgins, que trata de trazê-lo para a própria casa e não se cansa dos elogios que recebe do pobre coronel. Um momento bem interessante é a canção "Indeed you did" onde reconhece a grande habilidade de Higgins que se vangloria após a exibição na embaixada enquanto Eliza se apaga na sala. Ms. Pierce, a governanta, também está lá para isso.
Avancemos um pouco mais; outra caracterítica é a busca de objetos que o completam, que lhe faltam e que garantirão a perfeição do eu. Ora, ele só realmente olha para Eliza quando esta consegue fazer o que lhe pedem (os motivos de Eliza podem ser analisados em outro momento). Agora por que ele se importa com Eliza? Justamente por que ela representa seu próprio poder. É a prova de sua onipotência. Por isso pergunto: o professor se apaixona pela florista? Obviamente que não. Ele ama só a si mesmo refletido na pobre Eliza.
Faz sentido pra vocês? Estou realmente tendendo a psicanalisar mais a fundo os outros personagens chave de My Fair Lady, a própria Eliza e, melhor ainda, o pai dela Alfie.

There she blows!

Finalmente terminei de ler Moby Dick. Me leou um ano mas acabou; não que o final seja uma coisa grandiosa, muito pelo contrário mas eu gostei bastante. Acho que o ponto é mostrar como o Homem (Ahab) é um cocozinho diante da fúria da natureza.
O engraçado é que, por algum motivo que verdadeiramente desconheço, sempre achei histórias sobre o mar fascinantes. Conrad, Hemingway, London... todos me prendem com facilidade. Anos atrás a cultura exibia esse seriado chamado "As Viagens do Mimi" sobre um bando de pesquisadores num barco velho que acabam se dando mal algumas vezes. Devia ser alguma coisa da BBC ou uma produção francesa - não me espantaria - but I digress. Eu adorava aquele negócio. Pena que eu deva ser o único que assistiu aquilo.