quarta-feira, junho 13, 2007

Why can't women be like a man?

Com uma certa frequência eu costumo rever My Fair Lady. Eu adoro as músicas e a gracinha da Hepburn mas uma coisa eu ainda não havia percebido: O professor Higgins nunca realmente ama Eliza.
Tá, tá, se você já leu a peça do Shaw, Pigmalion, de onde o musical é adaptado, percebe isso eventualmente- afinal, o próprio autor afirma que eles nunca ficam definitivamente juntos, já que ela se casa com Freddy e passa a sustentá-lo posto que o mesmo é um grande banana. Mais tarde ela e o professor se tornam amantes mas nunca ficam juntos de verdade.
Agora deixa eu explicar por que ele não ama Eliza. Pra começar eu preciso falar um pouco sobre o conceito de Narcisismo. Freud usa o mito de Narciso para falar de uma característica normal no infante onde esse é o centro do mundo, o receptáculo de toda a energia libidinal. Essa condição se institui, a grosso modo, a partir da relação com a figura materna transforma o filho/a no phallus que ela, enquanto mulher, não possui naturalmente. Podemos perceber isso quando a mãe chama o filho de "meu tesouro", por exemplo e quando ela se coloca acima do homem por ser mãe. A maternidade possibilita a essa mãe um poder social considerável.
Bom, no filme a relação do professor com a mãe não parece sustentar o diagnóstico mas eu ainda preciso trabalhar nisso. Continuando, o narcisismo é uma etapa natural e esperada dentro do desenvolvimento psíquico. Em dado momento essa etapa dá lugar, depois da intervenção paterna que coloca o infante no lugar a que pertence, principalmente durante a fase fálica no processo edípico, à relação Eu-Outro como conhemos, perpassada pela lei. Entretanto o narcisismo pode perdurar e instituir-se sobre a lei da alteridade, levando para a vida adulta as carcaterísticas da relação com a mãe em que o sujeito é próprio falo.
Algumas características do narcisista são a fantasia de onipotência, onde o sujeito sente-se capaz de tudo, praticamente um deus sobre a Terra, a negação da diferença, já que a própria existência diferença diminui seu status enquanto eu-mundo ,a busca de pessoas reforçadoras que confirmem sua posição, o pensamento binário, onde tudo que o sujeito representa é o bom e todo o resto o mal, entre outras coisas.
Pensemos agora no que o filme nos dá. Em primeiro lugar o ódio de Higgins a qualquer jeito diferente de se usar a lingua inglesa que não a que ele mesmo usa já pode caracterizar alguns dos comportamentos citados, podemos ainda acrescentar algumas canções como "Let a woman in your life" e "Why can't women be like a man?" para reforçar nossa posição. Certamente a ilusão de onipotência é óbvia nos bastando a própria empreitada a que se propõe, passar a vendedora de flores por uma duquesa no baile da embaixada, que não era o que Eliza queria, diga-se de passagem. Higgins tem tanta fé em seu poder que arrisca a vida da pobre moça sem pestanejar.
Quanto a pessoas reforçadoras, Pickering é um puxa-sacos de marca maior, veio da India para encontrar Higgins, que trata de trazê-lo para a própria casa e não se cansa dos elogios que recebe do pobre coronel. Um momento bem interessante é a canção "Indeed you did" onde reconhece a grande habilidade de Higgins que se vangloria após a exibição na embaixada enquanto Eliza se apaga na sala. Ms. Pierce, a governanta, também está lá para isso.
Avancemos um pouco mais; outra caracterítica é a busca de objetos que o completam, que lhe faltam e que garantirão a perfeição do eu. Ora, ele só realmente olha para Eliza quando esta consegue fazer o que lhe pedem (os motivos de Eliza podem ser analisados em outro momento). Agora por que ele se importa com Eliza? Justamente por que ela representa seu próprio poder. É a prova de sua onipotência. Por isso pergunto: o professor se apaixona pela florista? Obviamente que não. Ele ama só a si mesmo refletido na pobre Eliza.
Faz sentido pra vocês? Estou realmente tendendo a psicanalisar mais a fundo os outros personagens chave de My Fair Lady, a própria Eliza e, melhor ainda, o pai dela Alfie.

1 Pitaco:

Anonymous Anônimo disse...

Depende do que você quer. Se você quer ter um conhecimento bem embasado sobre Shakespeare tem que ler as obras cruciais: Hamlet, King Lear, Henry IV, Macbeth, Othelo. Se você está amis a fim de começar devagar e então evoluir para as obras principais, bons pontos de partida são as comédias, particularmente A Midsummer´s Night Dream e The Merchant of Venice. Romeo and Juliet, claro, é muito recomendado. Por mais que você conheça a história, nada se compara ao original.

Agora, meu conselho mesmo é comprar uma edição de obras completas do Shakespeare (existem umas até baratas) e ler absolutamente TUDO. Vale a pena.

junho 13, 2007 10:59 PM  

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