As duas últimas semanas parecem ter mostrado uma faceta do Brasil que todo mundo já conhecia mas se esforçava para não enfrentar. A corrupção no nosso sistema político é notória e visceral. Tão notória que chega a ser vergonhosa. Tão vergonhosa que vira motivo de piada interna, como se isso fosse a melhor maneira de lidar com isso. Pensando nisso, deve ser a menos ameaçadora mas sobre isso eu discuto uma outra hora. Me espanta todo o alvoroço da mídia em torno de Jefferson e suas denúncias, se perguntando por que o cara está fazendo isso, se será verdade ou não, quem são os responsáveis e o que acontecerá com eles, etc, etc e o espanto por isso ter vindo a tona agora, no governo Lula e não antes. O PT, diziam, é o partido que prega a ética, que se esforçou para acabar com esse tipo de prática e agora na situação age do mesmo jeito que o opressor que sempre enfrentou. Tenho minhas dúvidas. Sinto sinceramente que o PT ainda é o partido, idealmente, da luta trabalhadora e da igualdade. Idealizado por Lula e seus companheiros, se tornou um marco no movimento político mundial (sem exageros) e chegou onde poucos chegaram. A executiva PTista é composta, até onde entendo, por pessoas de passado revolucionário e lutador, que sofreu sob a égide da ditadura e perseverou. O grande problema é que essa mesma executiva se vê agora no lugar do opressor que tanto enfrentaram e, curiosamente, sem condições psíquicas reais de lidar com essa nova posição. Paulo Freire no seminal A Pedagogia do Oprimido já discutia isso nos anos 60, sugerindo que o oprimido, quando no lugar do opressor, dentro do nosso sistema (esquizofrênico, eu diria) age oprimindo. O opressor internalizado é colocado para fora, às vezes por pura ânsia de desforra, às vezes por puro medo da perda da posição conquistada, da liberdade não libertadora. A "liberdade de" seu opressor não é a mesma da "liberdade para" mudar (Erich Fromm, O Medo da Liberdade) na maioria das pessoas. Isso explica ria as atitudes autoritárioas, quase fascistas, de Genoíno e Dirceu. E nas atitudes revoltadas dos discidentes como aquela deputada cujo nome eu não me lembro e que fundou o PSOL, num movimento desesperado de reafirmar as convicções que a leváram ao PT de início. Siceramente acredito que Lula é um dos poucos ainda intocados do partido, embora um tanto míope. Seu pecado é a confiança. Valor cada vez menos celebrado nesse Brasil pós-moderno e que não é nada sem a moral em contrapartida além de uma armadilha prestes a disparar.